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Inflação teve piora quantitativa e qualitativa, diz presidente do BC

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicou nesta terça-feira (16) que a autoridade monetária precisa ser realista quanto à piora da inflação, que aconteceu tanto em termos quantitativos quanto qualitativos.

Ao participar do IX Fórum Jurídico de Lisboa, em Portugal, ele também afirmou que o Brasil está passando por uma situação que ocorre pela primeira vez em décadas, em que enfrenta um problema de inflação interna, ao mesmo tempo em que importa inflação de outros países.

“O número de inflação acelerou e teve piora tanto quantitativa quanto qualitativa, a gente tem enfatizado isso”, disse ele.

“É muito importante ser realista e entender o quão disseminada está a inflação e o quão difícil será o trabalho do Banco Central nesse ponto”, completou.

Em sua fala, Campos Neto reconheceu que o BC tem percebido mais recentemente uma revisão de inflação para cima e de crescimento para baixo em 2022.

Ele voltou a atribuir o avanço de preços na economia ao forte choque em alimentos ocorrido no ano passado e ao novo choque ocorrido neste ano, ligado a eletricidade e combustíveis, que classificou como “o maior dos últimos 20 anos”.

O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC se reúne nos dias 7 e 8 de dezembro para a próxima decisão sobre os juros básicos, atualmente em 7,75% ao ano. No último encontro do colegiado, no fim de outubro, a mensagem era de que outro aumento de 1,5 ponto era antevisto pela autoridade monetária, desde que o cenário não mudasse.

De acordo com a pesquisa Focus mais recente, a expectativa dos agentes econômicos já é de um PIB (Produto Interno Bruto) abaixo de 1% no ano que vem, com inflação de 4,79%, ante meta central de 3,5%, que o BC vinha frisando ser possível atingir.

Campos Neto também indicou nesta terça-feira que o aumento do prêmio de risco ligado ao país tem conexão com o fiscal e com os questionamentos sobre a trajetória das contas públicas à frente —algo que se relaciona mais com a visão de quanto o Brasil pode crescer estruturalmente do que com os dados fiscais do dia a dia, que têm melhorado.

Campos Neto disse que a autoridade monetária em geral não fala sobre o tema, mas ressaltou que os desenvolvimentos no front fiscal têm impacto sobre a taxa neutra de juros e, portanto, sobre o trabalho do BC.

“Se eu tenho um mesmo modelo de equilíbrio fiscal com crescimento de 2,5% a 3% e uma taxa de juros de 7%, e mudo o crescimento de 2,5% a 3% pra 1%, e passo a uma taxa de juros de 8%, eu deixo claramente de ter uma coisa sustentável pra ter uma coisa explosiva”, afirmou ele.

Campos Neto disse que, de um lado, o Brasil precisa fazer um esforço fiscal, sendo “muito importante” acenar com algum corte de gastos. Ele disse, contudo, entender as dificuldades nesse sentido no âmbito do “mundo político”, que “gera suas limitações”.

Por outro lado, ele pontuou que o que vai realmente equilibrar as percepções sobre o Brasil no futuro é a capacidade de o país crescer mais, lembrando que nos últimos sete anos o PIB foi “bastante baixo”.

“É importante deixar mensagem que temos que seguir com as reformas estruturais, [é] a forma de achar esse equilíbrio fiscal com credibilidade. A credibilidade hoje, mais do que nos detalhes do fiscal do dia a dia, está em passar uma mensagem que a gente é um país que tem capacidade de ter crescimento sustentável mais alto”, afirmou.

Sobre o cenário externo, ele frisou que o mundo passará por um processo de normalização dos juros após os estímulos dados durante a pandemia, o que fará com o que o ambiente seja “ainda mais desafiador” para o Brasil.

2022 É ANO DE DESACELERAÇÃO, NÃO DE RECESSÃO, DIZ DIRETORA DO BC

A diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos​ do Banco Central, Fernanda Guardado, afirmou nesta terça-feira que 2022 é ano de desaceleração econômica, e não de recessão.

Ao participar de webinário promovido pela Aberj, ela afirmou que a autoridade monetária tem ciência das revisões para o PIB no vermelho feitas por “muita gente”, mas frisou que o BC tem “muita dificuldade” em ver esses números negativos para o ano que vem.

Guardado pontuou que o BC não trabalha com cenário de estagflação, já que vê crescimento positivo para o Brasil em 2022, com ajuda, por exemplo, do setor agropecuário e do setor de serviços, este último buscando seu “novo equilíbrio” após o impacto sofrido pela pandemia de Covid-19.

Segundo boletim Focus mais recente, a mediana das expectativas dos agentes econômicos é de avanço de 0,93% para a atividade no ano que vem e de 4,88% este ano. Alguns bancos grandes, como Itaú Unibanco e Credit Suisse, já preveem retração da atividade em 2022.

“Para 2021 a gente vê o mercado se aproximando mais do número do Banco Central, e quedas importantes nas projeções para 2022”, afirmou Guardado, após ter reforçado que a projeção do BC é de alta do PIB de 4,6% a 4,7% em 2021.

No seu último Relatório Trimestral de Inflação, no fim de setembro, o BC previu uma alta do PIB de 4,7% neste ano e de 2,1% em 2022.

Ainda sobre as expectativas do mercado, Guardado reconheceu que as contas para a inflação têm sido ajustadas “consistentemente para cima” neste ano, com parte dessa inflação tendo algum impacto para 2022, ao mesmo tempo em que já há “aumento tímido” dos números para 2023 em relação à meta.

No Focus, as estimativas são de IPCA em 9,77% em 2021, 4,79% em 2022 e 3,32% em 2023, em todos os casos acima das metas centrais de 3,75%, 3,5% e 3,25%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos.

Já o BC calculou IPCA de 9,5% para 2021, 4,1% para 2022 e 3,1% para 2023 em sua última reunião do Copom, no fim de outubro.

Em relação à discussão sobre dominância fiscal, a diretora avaliou ser muito difícil dizer que o BC está sendo passivo e acomodando a política fiscal.

Segundo ela, isso seria acreditar que BC não vai colocar a taxa de juros no patamar necessário por conta de preocupação com a sustentabilidade com a dívida, sendo que esse quadro não é condizente com as ações que estão sendo efetivamente tomadas pela autoridade.

Desde março, quando iniciou o ciclo de aperto monetário, o BC já subiu a Selic em 5,75 pontos, ao patamar atual de 7,75% ao ano, tendo indicado que promoverá outro ajuste nos juros básicos em dezembro.

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