Distrito Federal

“Lugar de estudante é na UnB ou onde eles quiserem”, afirma professor do CG

Foram convocados mais de 2.700 alunos para ingresso referente ao segundo semestre letivo de 2021 pelo Programa de Avaliação Seriada (PAS). Apesar de ter iniciado as aulas presenciais há muito pouco tempo, estudantes da rede pública de ensino do Distrito Federal conseguiram se sair bem na prova, mesmo com as limitações de materiais e outras dificuldades enfrentadas. Por esse motivo, boa parte dos aprovados no PAS 2018-2020 está nas escolas públicas do DF. 

O Centro de Ensino Médio 01 do Gama, popularmente conhecido como CG, obteve uma alta taxa de aprovação na última edição, a do intervalo de 2018 e 2020. O esforço dos professores e funcionários, tanto na questão do ensino quanto no suporte aos alunos durante dois anos de aulas on-line, foi recompensado: a escola levou 67 alunos para a Universidade de Brasília (UnB) só na primeira chamada da convocação. O CG terá estudantes em diversos cursos, inclusive nos que têm alta concorrência, como direito, engenharia aeroespacial e administração, segundo levantamento feito pelo colégio.PUBLICIDADE

"Eu amo o CG", diz o letreito na escola do Gama
“Eu amo o CG”, diz o letreito na escola do Gama(foto: Arquivo pessoal)

Por conta da pandemia de covid-19, o colégio aderiu às aulas remotas no ano passado e, desde então, teve alguns desafios na preparação dos alunos para o PAS, principalmente com os que fizeram a terceira e última etapa, decisiva para conseguir o acesso. Segundo a vice-diretora Adriana Medeiros, a escola aderiu às aulas remotas já em abril de 2020, dois meses antes de se tornar uma exigência da Secretaria de Educação, e esse foi um fator crucial para que os alunos não tivessem tanto prejuízo com a suspensão das aulas.

"Nosso primeiro trabalho é fazer eles acreditarem que eles têm chances de entrar na universidade; que a universidade é para eles, sim, nós temos esse compromisso", diz Adriana Medeiros
“Nosso primeiro trabalho é fazer eles acreditarem que eles têm chances de entrar na universidade; que a universidade é para eles, sim, nós temos esse compromisso”, diz Adriana Medeiros(foto: Arquivo pessoal)

Com relação ao ensino, a escola ofereceu suporte técnico também para os alunos que tinham dificuldades para acessar as aulas e acompanhar o calendário do processo seletivo. A escola adotou o sistema dos ensinos síncronos, que permitiu com que houvesse maior interação entre o professor e o aluno, e isso, segundo a vice-diretora, foi um fator destaque para a alta aprovação dos alunos no PAS, além de outros projetos pedagógicos que já existiam anteriormente, mas que foram adaptados com sucesso para os meios digitais.

Para os alunos que tinham dificuldades de acessar as aulas, o colégio montou uma equipe de informática para auxiliá-los, e promoveu campanhas de arrecadação de celulares e computadores, para que mais alunos pudessem ter acesso.

A escola tomou outras medidas para driblar os efeitos negativos que as aulas on-line proporcionaram, principalmente com relação à desmotivação dos alunos. Adriana conta que a questão psicológica sempre foi uma preocupação junto com a questão da evasão escolar, que têm se tornado um problema sério nas escolas públicas do DF durante a pandemia.

“O primeiro objetivo era não permitir que os meninos abandonassem a escola, o segundo era dar o suporte psicológico”, explicou. Ela ainda destacou a importância de a escola usar os professores e os representantes das turmas como meio para chamarem os colegas que não estavam acompanhando as aulas on-line. Isso fez com que muitos retornassem. Segundo ela, essa iniciativa fez com que “chegassem aos alunos de um jeito que a secretaria não conseguia”.

Jaiana Pereira, 18 anos, é um exemplo de resiliência. “Foi bem desanimador, eu até cogitei uma reprovação de propósito, porque não consegui me adaptar bem”, conta a estudante. Ela ainda afirma que teve problemas com ansiedade e depressão, e que o estresse gerado no período do ensino remoto fez inclusive com que este quadro se agravasse.

Porém, mesmo em meio a um cenário tão desfavorável, Jaiana aprovou a qualidade de ensino do CEM 01, principalmente no último ano do ensino médio, e destacou a grande quantidade de palestras e projetos pedagógicos que a auxiliaram em sua caminhada para a UnB, assim como o incentivo dos professores em meio a tantas incertezas. “Eles se esforçaram muito para manter os alunos animados com a escola e não desistirem, eu acho que os professores foram os que mais contribuíram para manter os alunos motivados”, diz. Devido a esses fatores, Jaiana hoje pode comemorar ter passado no curso que sempre sonhou fazer: medicina veterinária.

Rhaíssa Putumujú, 18, assim como Jaiana, também relatou dificuldades com o ensino remoto, principalmente ao se concentrar e manter o foco nas aulas. A cobrança e o medo de não ser aprovada também desencadearam na aluna problemas com ansiedade no início, o que prejudicou bastante seu aprendizado. Mesmo só tendo acesso às aulas pelo celular, o que inclusive dificultava o acesso a alguns recursos, Rhaíssa ainda sim relata não ter tido muitas complicações na questão tecnológica, e conseguiu estudar o bastante para ter a oportunidade de ter sua licenciatura em língua portuguesa e literatura, na UnB.

Jaiana Pereira (à esquerda) e Rhaíssa Putumujú; duas alunas que enfrentaram dificuldades na adaptação ao ensino remoto, mas deram a volta por cima e agora irão estudar na UnB no ano que vem
Jaiana Pereira (à esquerda) e Rhaíssa Putumujú; duas alunas que enfrentaram dificuldades na adaptação ao ensino remoto, mas deram a volta por cima e agora irão estudar na UnB no ano que vem(foto: Arquivo pessoal)

Não só os estudantes tiveram que passar por adversidades neste período, os professores também tiveram que se readaptar e correr atrás do prejuízo. O professor de língua portuguesa e literatura Aharom Avelino, 46, um dos docentes do CG, assim como as alunas, afirmou ter tido problemas com as aulas on-line em vários aspectos. “O primeiro impacto foi ter que me adaptar a essa nova realidade, meus conhecimentos de informática eram bem rudimentares e, do nada, me vi em um redemoinho de novas tecnologias”, conta.

Além da questão do manuseio das plataformas, Aharom ainda mencionou que um dos problemas nessa adaptação foi a quantidade de alunos que também não tinham facilidade em mexer com elas. Ele ainda levantou a questão de que a internet é, geralmente, vista como meio de lazer pelos jovens, mas que de repente, “a escola invadiu o espaço de lazer deles”.

Aharom, assim como Jaiana e Rhaíssa, também sofreu com ansiedade durante o período, e relatou problemas oculares por conta do tempo excessivo em frente às telas do computador e tablet. Segundo o professor, cerca de 300 redações eram corrigidas por ele a cada atividade proposta, isso além de outros projetos pedagógicos e conteúdos extras que ele produzia e publicava no YouTube. Ele diz ter ficado apreensivo com a baixa participação dos alunos nas aulas síncronas: “Sempre achamos que nossos alunos estavam conectados o tempo todo, mas a pandemia mostrou que não era tão real assim”.

Dever cumprido

Ao ser perguntado sobre o que sente quanto ao fato do CG ter levado tantos alunos para a UnB por meio do PAS, Aharom diz que, mesmo com a sensação de dever cumprido, é possível fazer mais. “É isso que eu quero que nossos alunos compreendam: que não importa a origem, cor, raça ou orientação sexual deles, o futuro que eles vislumbram é viável e o lugar deles é na UnB ou onde eles quiserem”, afirma.l

Por conta da suspensão das aulas e dos vestibulares da UnB em 2020, a prova foi realizada em 7 de março deste ano e concederá ingresso à universidade no segundo semestre de 2021, que por sua vez começará em 17 de janeiro de 2022. O Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe) lançou a convocação em primeira chamada em 27 de outubro, porém, vale ressaltar que ainda poderão sair outras chamadas, com chances de mais aprovados. Por isso, é necessário conferir sempre o site do Cebraspe para acompanhar.

Cemab

Wilson Júnior, estudante do Centro de Ensino Médio Ave Branca (Cemab), foi aprovado para a terceira etapa do Programa de Avaliação Seriada (PAS) da UnB em medicina. O estudante conta que ficou sem acreditar quando soube da notícia. “Achei que era mentira até receber inúmeras felicitações de familiares e amigos”, relata.

Wilson Júnior é aluno do Cemab
Wilson Júnior é aluno do Cemab(foto: Arquivo pessoal)

Mesmo com a pandemia, o jovem estudou por meio de projetos sociais e cursinhos on-line e conta que o apoio da escola foi fundamental para continuar com os estudos. “Os professores sempre se davam ao máximo na sala de aula com apostilas, exercícios e incentivos de sempre fazermos o melhor. Eles analisavam obras em sala de aula e buscavam, com excelência, que todo o conteúdo fosse aprendido da melhor forma possível”, relata.

No Cemab, foram 40 estudantes aprovados na primeira chamada do PAS. A diretora, Suzane Margarida, conta que, apesar das perdas que a comunidade escolar sofreu durante a pandemia, a escola se manteve presente para apoiar os estudantes, as famílias e os professores. “Tentamos não perder uma escuta afetiva e também não minimizar os sentimentos diversos que acompanham essas famílias, resguardando o respeito ao luto que todos estão vivendo nesse processo pandêmico”, afirma.

Além do apoio, a escola também procurou conseguir aparelhos eletrônicos para serem doados aos estudantes que precisavam acompanhar as aulas e não tinham como. “Acredito que essa conquista em meio a pandemia se deve ao esforço de todos os envolvidos para não perderem a excelência e o afeto gerado em nossa comunidade”, declara a gestora.

Pedro Passos, 18, também foi aprovado no PAS, para o curso de ciências políticas. O jovem conta que entrar para a UnB sempre foi um sonho e que receber a notícia trouxe alegria para si e para a família. “Foi muito bom perceber que todo o esforço durante esses três longos anos de estudo valeram a pena. Foi um sentimento de realização e conquista”, relata.

Pedro Passos é estudante do Cemab
Pedro Passos é estudante do Cemab(foto: Arquivo pessoal)

O estudante afirma que o Cemab foi fundamental para sua aprovação. Por meio das palestras com estudantes da universidade, as aulas e o material pedagógico, o estudante conseguiu se manter no ritmo mesmo com aulas em casa. “O período de pandemia foi muito difícil não só para mim, como para outros estudantes e assistir a vídeo aulas, e ter acesso a plataformas de estudo on-line pode me auxiliar bastante nesse momento”, conta.

Aprovados no CEL

Guinther Pedrosa, 18, é um dos aprovados no PAS. Ele estudou os três anos do ensino médio no Centro Educacional do Lago (CEL) e, após muito estudo, foi aprovado em medicina pelo PAS. “No primeiro e no segundo ano, por ter o ensino integral, eu estudava mais no período da noite, umas duas horas, para complementar o conteúdo. Com a pandemia comecei a ter mais tempo livre e estudava, em média, seis a oito horas por dia”, contou.

Guinther foi aprovado em medicina
Guinther foi aprovado em medicina(foto: Arquivo pessoal)

O Centro Educacional do Lago teve, além de Ghinther, mais 16 alunos aprovados no PAS em cursos de áreas diversas, como direito, engenharia mecatrônica, letras e administração. A escola, que funciona em período integral, criou o projeto Mantendo o Ritmo, a fim de motivar os alunos a continuarem estudando durante a pandemia.

“No início da pandemia, antes do ensino a distância ser determinado pelo governo, os professores, espontaneamente, começaram a dar aulas on-line, com materiais de apoio e dicas para os alunos se manterem motivados”, diz o coordenador pedagógico do CEL, Vitor Rios, 32, sobre o projeto. No site da instituição, há uma aba exclusiva com técnicas de estudo, materiais e cursos, além de aulões e simulados.

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