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Brasil registra mais 1.324 mortes por covid. ‘Mundo está falhando’, afirma OMS

Vacinas seguem eficazes e pandemia recua no país. Entretanto, expansão da contaminação pela variante delta, movimentos negacionistas e desigualdade na distribuição de imunizantes preocupam

O Brasil registrou nesta sexta-feira (23) 1.324 mortes pela covid-19 em um período de 24 horas. Com o acréscimo, o país chega a 548.340 vítimas do vírus desde o início da pandemia, em março de 2020. Em relação ao número de novos casos, foram notificados 108.732.

O número elevado tem relação com uma alteração em como a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul notifica os casos. Apenas hoje, o estado acrescentou 64.056 infecções. Destas, apenas 1.165 foram registradas hoje. Corrigindo o erro, o número de doentes confirmados no dia é de 45.841.

As autoridades do Rio Grande do Sul explicam que o represamento foi provocado porque, até agora, o estado notificava apenas os casos após encerramento da ocorrência no sistema por parte dos médicos. Logo, nenhum destes pacientes morreu. O que ocorria, até então, é que casos que não necessitavam de acompanhamento médico constante, permaneciam em aberto, e o estado não informava ao Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), que compila os dados.

Do total de notificações do estado, 9.412 foram entre março e dezembro de 2020, 24.684 entre janeiro e abril deste ano, 9.156 em maio, 12.438 em junho e 7.201 em julho. “Com a alteração da regra que determina a inclusão de novos casos no painel, será possível conhecer, de forma mais oportuna, os casos positivos”, afirma a secretaria. Corrigido o erro, o número de infecções no período em todo o país segue dentro da média esperada para o período, que indica tendência de recuo do surto no país.

Números da covid-19 no Brasil. Mudanças nos registros do Rio Grande do Sul provocam alta aparente de casos. Fonte: Conass

Vacinas e riscos

O avanço da vacinação contra a covid segue apresentando resultados positivos no Brasil. A média diária de mortes, calculada em sete dias, está em 1.135, menor número desde 24 de fevereiro. Até o momento, cerca de 130 milhões de doses foram aplicadas no país, o que representa 18,28% dos habitantes imunizados com duas doses, ou com vacina de dose única, e 48,8% tendo recebido a primeira dose de algum imunizante.

As vacinas estão demonstrando grande poder de contenção do vírus nos países com processo mais avançado. Entretanto, a pandemia segue fora de controle em todo o mundo. Desigualdade vacinal e o surgimento de mutações mais contagiosas e agressivas do vírus preocupam autoridades sanitárias. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que o mundo pode estar “nos estágios iniciais” de uma nova onda de infecções e mortes pela covid-19.

O diretor geral da entidade, Tedros Adhanom, fez duras críticas à condução da vacinação em todo o mundo, e alertou para os riscos de novas cepas do coronavírus. “A desigualdade na distribuição de vacinas entre os países é uma injustiça terrível. Isso não é apenas um ultraje moral, é também epidemiológica e economicamente autodestrutivo. A pandemia é um teste e o mundo está falhando”, disse. “A pandemia vai acabar quando o mundo decidir acabar com ela. Tudo depende de nós”, completou.

Variantes

A variante delta é o principal motivo de preocupação entre os especialistas. A OMS argumenta que a cepa, até 70% mais transmissível, será dominante em todo o mundo nos próximos meses. No Brasil, já existe circulação comunitária, que tende a se ampliar nas próximas semanas. A mutação do vírus da covid no Brasil segue sendo a gamma, ou P1, identificada pela primeira vez em Manaus. Dados do Instituto Butantan mostram que, em São Paulo, a gamma representa até 91% dos casos, número que deve se repetir em todo o país.

Embora as variantes ampliem os casos, estudos de todo o mundo confirmam que todas as vacinas aprovadas pela OMS são eficazes, incluindo os imunizantes em uso no Brasil: CoronaVac, AstraZeneca, Pfizer e Janssen.

As vacinas seguem eficazes em proteger vidas, mas as variantes impactam na redução das eficácias. Em especial, a delta, reduz drasticamente as eficácias das primeiras doses. Logo, especialistas ressaltam a importância de que todos tomem duas doses e completem o processo de imunização. Muitos países, incluindo o Brasil, estudam reduzir, ou já reduziram, o intervalo entre doses, por receio da cepa mais agressiva.

Mortes e mentiras

Enquanto países com boa cobertura vacinal, como o Reino Unido, registram alta de casos mas as mortes seguem baixas, em países asiáticos e da Oceania o número de óbitos vem crescendo. O cenário implica na retomada de medidas intensivas de isolamento social e lockdown. Nos Estados Unidos, a variante delta já representa 80% das infecções no país. Todos os norte-americanos têm acesso às vacinas. Entretanto, mentiras e fake news sobre a segurança dos imunizantes circulam com intensidade no país.

Um mês após o governo federal norte-americano derrubar a obrigatoriedade de máscaras entre vacinados, cinco estados já voltaram com as exigências. E isso deve se ampliar nos próximos dias. Na última semana, o país viu o crescimento de 53% nos casos em comparação com o período anterior. De acordo com o Centro de Controle de Doenças (CDC), 99% das mortes são de pessoas que rejeitaram as vacinas. Mesmo com imunizantes disponíveis em abundância, apenas 45% dos norte-americanos estão totalmente vacinados.

Estudos

Cientistas de todo o mundo correm com estudos para definir com precisão a eficácia das vacinas contra cada variante. Hoje, dois deles foram divulgados, ambos sobre a variante gamma. O primeiro analisa a CoronaVac e sua eficiência entre a população acima de 70 anos. Os resultados foram publicados na plataforma científica MedRxiv e contou com a participação de pesquisadores de diferentes universidades, como a Universidade de São Paulo, Yale e Stanford, nos Estados Unidos.

Após 14 dias da aplicação da segunda dose, a vacina evitou 41,6% dos casos sintomáticos, 59% as hospitalizações e 71,4% as mortes. Entre os mais jovens, permanece a lógica para variantes anteriores, com eficácia de 50,28% para evitar o contágio, 78% contra casos que necessitam atendimento médico e até 100% contra mortes. O Instituto Butantan já iniciou outro estudo similar para analisar a vacina diante da variante delta.

O segundo estudo divulgado hoje na mesma plataforma analisa a vacina da AstraZeneca (ChAdOx1), produzida no Brasil em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Neste caso, a faixa etária verificada foi acima de 60 anos. Os resultados da vacina diante da variante gamma também foram positivos. Após 14 dias da segunda dose, foram evitadas 77% dos casos sintomáticos; 87,6% das internações; e 93,6% nas mortes.

A biomédica e neurocientista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Mellanie Fontes-Dutra celebra os resultados. “A prioridade-chave numa campanha de vacinação em massa é salvar vidas, reduzindo a mortalidade e a morbidade. Idosos compõe um grupo que apresenta vulnerabilidade para a COVID-19, especialmente na presença de comorbidades. Assim como a CoronaVac, AstraZeneca cumpre esse propósito”, resume.

Fonte: RBA

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