Internacional

China substitui Brasil no protagonismo das relações na América do Sul

Enquanto ventos sul-americanos mudam de direção, Beijing se torna alternativa ao vazio deixado por Brasília

No geral, Bolsonaro se apresenta claramente como opositor aos líderes que não mantenham ideologias de direita (como por exemplo os governos da Argentina, Venezuela e recentemente, declarou “Perdemos agora o Peru” quando Pedro Castillo liderava a contagem de votos), outrossim, observa-se uma explícita subordinação aos EUA em termos regionais, fazendo com que o país se oponha a iniciativas que demonstrem sua possível liderança. Assim sendo, perde-se cada vez mais a capacidade de barganha no cenário internacional e também em mercados nos países vizinhos.

Discordâncias

Na falta de uma estratégia comum, Brasil e Argentina tem divergido sobre como lidar com a presença chinesa na região, sendo que a Argentina tem se mostrado mais aberta a adotar proposições do gigante asiático, o que ocorre no caso do 5G e da Belt and Road Initiative (BRI). No Brasil, a questão da instalação da rede 5G pela empresa chinesa Huawei, que detém a melhor relação custo/benefício, vem acompanhada de opiniões conflitantes do governo federal. Aliado e pressionado pelo governo dos EUA a tomar medidas restritivas contra a empresa chinesa, o governo brasileiro tomou a possibilidade de banir a empresa dos leilões e até mesmo se dirigiu de forma ofensiva ao governo chinês, desgastando assim a relação diplomática Brasil-China. Somente diante da grande dependência econômica que o Brasil tem para com a China e o forte avanço da pandemia do Covid-19 que, pela pressão de grupos econômicos e políticos interessados nas relações sino-brasileiras, a decisão foi revista.

Em contradição ao caso brasileiro, a Argentina seguiu outro caminho. O debate sobre a participação da empresa chinesa na instalação da rede 5G no país está mais pacificado. Em 2020, o Ministério das Relações Exteriores da Argentina entrou em contato com empresários chineses para discutir sobre os investimentos no país e os impactos da tecnologia 5G no mundo, colocando-se a previsão da incorporação do 5G, com apoio da Huawei, já para 2022. Outro ponto de debate da relação com a China é a adesão à Nova Rota da Seda. O Brasil já se consolidou como o principal parceiro comercial de Pequim na região e também como maior destino de investimentos chineses na América Latina, dinâmica que uma negativa à Iniciativa do Cinturão e Rota dificilmente mudaria. Ademais, o alinhamento do governo Bolsonaro com Trump nos últimos dois anos atuou como limitação para que o país aventasse participar da iniciativa.

Em contraponto ao Brasil, na Argentina a adesão à Rota da Seda ganha cada vez mais força. Devido à difícil situação macroeconômica em que se encontra, o país tem enfrentado muitas dificuldades de acesso a linhas internacionais de crédito. Espera-se que a entrada na BRI possa alavancar recursos e investimentos chineses no país. A China tem, inclusive, negociado com a Argentina uma linha de crédito para financiar a importação de equipamentos chineses para a modernização e desenvolvimento do parque industrial argentino.

Consequências

Deve-se mencionar que a intensificação das relações China-Argentina contribuiu para a diminuição da complementaridade econômica do Brasil com a Argentina, ao deslocar as exportações brasileiras de manufaturados e investimentos brasileiros, bem como por consequência dificultou o avanço da integração regional. Ao lado da expansão chinesa, o vazio deixado pela ausência de liderança do Brasil tem contribuído para que a região não consiga desenvolver uma estratégia coletiva para lidar com a ascensão chinesa. O papel do Brasil nos diversos acordos e blocos realizados na região é de considerável importância, tendo em vista o tamanho de sua população, da sua economia,

de seu território, etc, assim, se se ausenta de coordenar mecanismos de concertação e integração, há diminuição da capacidade regional para lidar com atores externos e garantir autonomia.

Lembre-se que juntos, Argentina e Brasil representam cerca de 63% do território da América do Sul, bem como 61% do PIB da região. Como economias mais avançadas, foram pilares para a construção de iniciativas de integração regional. A deterioração da relação entre ambos também dificulta uma reação à China. Como consequência os ventos sul-americanos têm soprado em direção a Beijing.

Fonte: Opera Mundi

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