Enfrentando o coronavírus

Com isolamento em queda e vacinação lenta, Brasil pode ter terceira onda de covid-19

Cientistas da Universidade de Washington já preveem aumento no número de casos no país durante o inverno. Nível de isolamento atinge o patamar mais baixo desde o início da pandemia

Em entrevista ao Jornal Brasil Atual, a médica sanitarista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ligia Bahia alerta quanto à possibilidade de o Brasil enfrentar durante os próximos meses a terceira onda da covid-19, com um novo aumento de óbitos. De acordo com a especialista, isso deve ocorrer por conta do nível de contágio da doença, que segue em alta e sem controle. 

Pelo menos 29.916 novos casos da doença foram confirmados nesta segunda-feira (17), de acordo com o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). Há uma semana, o número de diagnósticos registrados era de 25.200, ante 24.919 confirmados nas duas semanas anteriores. Em paralelo, a média móvel de mortes que vinha em queda há 15 dias, também voltou a crescer, indicando a possibilidade de uma nova escalada do número de óbitos para as próximas semanas. 

Os dados brasileiros chamaram atenção de cientistas da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, que preveem também uma terceira onda. De acordo com as projeções do Instituto de Métricas de Saúde e Avaliação da entidade, divulgadas pelo jornal O Globo nesta terça (18), o Brasil pode chegar a 751 mil mortes pela covid-19 até 27 de agosto. Um trágico marco em um cenário com 95% da população usando máscaras. Sem o uso da proteção e com a disseminação crescente da variante brasileira (P.1), o número de mortos pode alcançar 941 mil até 21 de setembro. 

Isolamento em queda

A instituição vem se destacando justamente por conta de suas projeções certeiras. Mas o cenário pode ser atenuado com investimentos no ritmo da vacinação contra a covid-19 e nas medidas de restrição de mobilidade. Apesar da emergência, pesquisa do Instituto Datafolha, nesta segunda (17), indicou que o nível de isolamento é o mais baixo desde o início da pandemia, em março de 2020. Apenas 30%, do total de 2.071 pessoas consultadas entre os dias 11 e 12 maio disseram estar totalmente isoladas.

Outros 63% responderam que tomavam cuidado, mas saíam de casa para trabalhar e fazer outras atividades. Na pesquisa anterior, em abril, os que não estavam em isolamento eram 24%. “É muito alarmante”, comenta Ligia Bahia à jornalista Marilu Cabañas. “Mas é o que vemos todos os dias, com festa, eventos. Aqui no Rio de Janeiro foi fechado um evento no (hotel) Copacabana Palace para 500 pessoas. É uma insistência e leniência. Depois desses eventos o que ocorre a gente já sabe”, aponta. “Precisamos que essa CPI (da Covid) também seja um ponto de ‘agora vamos tentar virar esse jogo’”, analisa a médica sanitarista. 

Economia em declínio

Uma nota técnica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que é falsa a suposta dicotomia entre saúde e economia. Com base em dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Ipea identificou que o Brasil registrou proporcionalmente mais mortes decorrentes da covid-19 em 2020 do que 89,3% dos demais 178 países analisados. A instituição ainda observou que o país foi o 11º com a maior queda na taxa de ocupação da população entre 64 nações acompanhadas pela OIT.

A partir de dados da OMS, o levantamento calculou ainda que o risco de morrer em decorrência da covid-19 em solo brasileiro é 3,6 vezes maior que o risco global. No extremo oposto do Vietnã, onde o risco de vir a óbito pela doença é 2 mil vezes menor do que comparado ao Brasil. 

Fracasso bolsonarista

Um “duplo fracasso” para a conta do governo de Jair Bolsonaro, na avaliação do diretor adjunto do Dieese, José Silvestre. De acordo com ele, a gestão federal não conseguiu salvar a economia, garantido estabilidade de emprego e manutenção da renda, e nem a saúde. “Aliás, essa falsa dicotomia entre vida e economia faz parte não apenas da narrativa do governo desde o início da pandemia, mas da própria prática de enfrentar a pandemia”, completa Silvestre, na Rádio Brasil Atual

“Os dados revelam que nos países que tiveram mais zelo, que seguiram a ciência e fizeram o isolamento, ou seja, seguiram os protocolos, os resultados, tanto do ponto de vista das perdas de vidas humanas como do ponto de vista do emprego, foram bem melhores do que no Brasil. Mais uma prova cabal que não existe essa dicotomia”, adverte o diretor adjunto do Dieese. 

Confira a entrevista:

https://www.youtube.com/watch?v=t6TmaHI2AFA&t=549s

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