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Oito de Março, Dia Internacional das Mulheres

Maria Ricardina, Vilmara Carmo e Edneide Arruda

Oito de março é um ícone das lutas das mulheres e do feminismo. Por isso, iniciando este texto, trazemos a palavra de bell hooks, feminista negra, norte-americana: “Feminismo é o movimento para acabar com o sexismo, exploração sexista e opressão.” Neste encontro internacional, que acontece todos os anos, as mulheres atualizam o pulso desse movimento contra a opressão, apresentam demandas, avaliam avanços e desafios. E neste século XXI, de crise profunda do capitalismo neoliberal, com pandemia devastadora, destruição do planeta e governos genocidas, erguem suas vozes os mais atingidos – mais da metade da população do planeta: AS MULHERES.

A criação de uma data específica para as lutas das mulheres tem algumas controvérsias. No final do século XIX e início do século XX, nos EUA e na Europa que se industrializavam, trabalhadoras das fábricas começaram a protestar contra a jornada de 15 horas, as péssimas condições de trabalho e os baixíssimos salários. Dentre os momentos mais significativos dessa luta, destacam-se: movimento pelo direito ao voto, organizado pelas sufragistas, entre 1900 e 1907; realização da 1ª Conferência Internacional Socialista, em 1907, na qual Clara Zetkin, Rosa de Luxemburgo e Alexandra Kollontai defendem que todos os partidos socialistas lutem pelo sufrágio feminino; celebração, nos EUA, do primeiro Dia Internacional da Mulher, em maio de 1908, e nos anos de 1909 e 1910; realização da 2ª Conferência de Trabalhadores Socialistas, em 1910, na qual, Clara Zetkin propõe a criação do Dia Internacional das Mulheres Trabalhadoras; greve das tecelãs russas, por Pão e Paz, estopim da Revolução Russa de 1917, justamente no dia 8 de Março daquele ano.

O vigor dessas lutas propaga-se e leva muitos países, já naquele período, a oficializarem a data. Posteriormente, em 1975, a própria ONU decreta o Oito de Março como símbolo da luta das mulheres em todos os espaços da vida social e política.

No Brasil, o 8 de Março é marcado por organização, reflexão, lutas, manifestações e protestos. Conectadas com o mundo, comprometidas com a luta pela democracia, por igualdades, direitos, liberdade, vida digna e pelo combate ao machismo, às discriminações e preconceitos, e, na linha de frente contra as violências e o feminicídio, as mulheres organizadas protagonizaram muitas conquistas, ao longo das décadas.

No Distrito Federal e Entorno, a organização e mobilização das mulheres tem uma história de lutas, projetos e bandeiras, que são referência no país. Neste palco privilegiado, o 8 de Março tem sido marcado com manifestações contra o governo central, o Parlamento, o Judiciário e o governo do DF, pelo não atendimento às demandas por segurança, respeito, igualdades, oportunidades, acessos e participação na política.

Em 2016, o golpe institucional, paramentar e midiático, desferido contra uma mulher honesta, a presidenta Dilma Rousseff, chamou a atenção das mulheres para os ataques às suas lutas e direitos. Assim, em 2017, articuladas no movimento internacional 8M Unificadas, as mulheres do DF e Entorno protestaram com o mote “Nenhuma a Menos, Nem Um Direito a Menos”. Mais de 10 mil mulheres ocuparam Brasília para gritar “Fora Temer” e “Aposentadoria Fica Temer Sai”.

Em 2018, com o mote “Pela Vida Das Mulheres, Em Defesa Da Democracia, Em Defesa Dos Direitos e Contra o Racismo”, as mulheres foram às ruas defender a democracia e se contrapor à violência. Logo depois, dois fatos políticos violentos marcaram aquele ano: o assassinato, no dia 14 de março, da vereadora Marielle Franco (Psol/RJ); mulher negra, de esquerda e bissexual, e, no dia 7 de abril, a prisão do ex-presidente Lula, de forma arbitrária e ilegal, por ordem do ex-juiz Sérgio Moro.

Em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, as mulheres realizaram importante ato de resistência, em que, com o mote “Pela Vida das Mulheres Resistiremos”, cobraram da Justiça brasileira, solução para o assassinato do Marielle e liberdade para Lula – solto, em novembro.

Em 2020, unificadas com as mulheres do MST, que realizavam seu 1º encontro nacional na capital do país, as mulheres marcharam para a Torre de TV, marcando o 8 de Março, com o mote “Pela Vida de Todas as Mulheres, Contra o Racismo, o Machismo e o Fascismo”. Em sua diversidade, elas mostraram a dimensão das bandeiras e pleitos que reivindicam – e que são inadiáveis.

Este ano, rico em atividades, conteúdos e representatividades, a data será marcada pelo mote “Pela Vida das Mulheres, Vacina e Auxílio Emergencial Já! Fora Bolsonaro e seu Governo Assassino!”, que, por sua vez, reflete a grave situação por que passa o Brasil, diante de uma crise – econômica, social, política e sanitária – sem precedentes. Em seu manifesto, as mulheres emitem um recado: não vão tolerar um governo “racista, machista e inimigo dos direitos humanos”, que “ataca os direitos e as políticas para as mulheres”.

Manifestações e debates que ocorrem nesta data renovam as oportunidades de repensar estratégias, avaliar percursos e analisar as astúcias do inimigo para perpetuar a opressão sexista. Formação, organização e união tornam-se imprescindíveis na construção de um caminho mais seguro para avançar na efetiva emancipação de todas as mulheres: negras, indígenas, quilombolas, ciganas, ribeirinhas, do campo e da cidade, de povos e comunidades tradicionais, com deficiência e mobilidade reduzida, de todas as gerações e sexualidades.

Maria Ricardina – Feminista, professora, militante do Coletivo Reflexão e Prática – PT/DF
Vilmara Carmo – Militante da Marcha Mundial das Mulheres, diretora da Secretaria de Mulheres do Sinpro-DF
Edneide Arruda – Jornalista e feminista

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