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Os reflexos das mudanças no governo federal para a política no DF

Por Geraldo Magela

Não há como negar que as mudanças que o Presidente Bolsonaro fez no seu ministério podem ter implicações diretas nas disputas políticas locais no Distrito Federal.

Penso que o PTDF deve se esforçar para compreender estas implicações e se preparar para enfrentá-las.

As mudanças tem duas causas que podem se somar no curto prazo mas podem se transformar em conflitos no médio prazo.

A primeira razão para estas mudanças é o desejo de Bolsonaro de ter controle absoluto das forças armadas, da Polícia Federal e dos aparelhos de informação e repressão do Estado. Ele vinha perdendo capacidade de dirigir e influenciar as chefias das Forças Armadas.

Dentro do seu projeto autoritário é fundamental que este controle seja assegurado. Portanto, parte das mudanças tem como fator motivador a tentativa de colocar as Forças Armadas como fiadoras das irresponsáveis tentativas de criar as condições para um golpe contra a democracia, contra a Constituição, contra resultados eleitorais indesejados em 2023, enfim, um golpe para Bolsonaro se manter na Presidência.

Por outro lado, algumas destas trocas têm a função de fidelizar o Centrão com o governo, entregando ao Presidente da Câmara, Deputado Artur Lira, a articulação política. E, com isso, evitar qualquer possibilidade de avançar com os pedidos de impeachment no Congresso Nacional.

Na minha opinião não há, atualmente, possibilidade do Centrão se transformar numa base parlamentar e política para apoiar um golpe para manter Bolsonaro na Presidência sem ganhar uma nova eleição.

É aí que podem estar as bases de um futuro possível conflito. Os partidos que compõem o Centrão são de direita, mas foram criados, vivem e usufruem do sistema político atual, que é imperfeito, mas tem suas bases na democracia representativa.

As consequências destas mudanças serão melhor compreendidas com o desenvolvimento do processo político nos próximo meses.

Mas já é possível avaliar que estas mexidas podem ter um significado especial para a política no Distrito Federal.

O governador Ibaneis tem o grupo do ex-governador Arruda como o seu principal aliado. São oriundos do grupo de Arruda os mais importantes secretários do governo. Com a ida da Deputada Flávia Arruda para a secretaria de relações com o Congresso Nacional, se fortalece a aliança de Ibaneis com Bolsonaro.

Além disso, a ida para o Ministério da Justiça do ex-secretário de Segurança do DF, Delegado Anderson Torres, ajuda na concretização desta aliança.

Não é o fato de Ibaneis ser do PMDB e este partido não fazer parte oficialmente da base bolsonarista, que o impedirá de ser aliado eleitoral de Bolsonaro. Pode ficar no Partido e apoiar a reeleição de Bolsonaro ou mudar de partido.

O lançamento da candidatura ao GDF do Senador Izalci Lucas, mesmo sendo apoiador de Bolsonaro no Senado, obriga o governador Ibaneis a buscar consolidar a sua aliança política e eleitoral com Bolsonaro, não permitindo que haja vácuo neste espaço.

Neste quadro é fundamental compreendermos que o governador Ibaneis se fortalece, pois é aqui no DF que o Presidente Bolsonaro tem uma de suas mais fortes bases de apoio popular.

Ibaneis vai se aproximar cada vez mais do governo federal e aprofundar a aplicação das políticas e práticas bolsonaristas aqui no DF.

Uma maior aproximação entre Ibaneis e Bolsonaro pode não produzir resultados eleitorais expressivos para o Presidente, já que o colégio eleitoral do DF é pequeno na composição nacional.

Mas, certamente, para Ibaneis esta maior proximidade pode resultar em consolidação de uma forte base eleitoral.

A importância eleitoral do grupo de Arruda pode levar a Deputada Flávia a compor a chapa majoritária com Ibaneis como vice-governadora ou até como candidata ao Senado.

Neste quadro político se tornam mais importantes do que já eram as deliberações do Diretório Regional quando estabeleceu que é necessário intensificar e unificar o trabalho de oposição a Bolsonaro e Ibaneis.

Também ganha urgência e maior importância os diálogos com os demais partidos de esquerda e com os movimentos sociais para construir uma unidade que possibilite enfrentar Bolsonaro com a candidatura de Lula e aqui no DF, construir candidaturas fortes e representativas para confrontar Ibaneis e os seus grupos de apoio.

Não são tarefas simples ou fáceis, mas são imprescindíveis para construir as possibilidades de derrotarmos a direita ideológica, o atraso e o obscurantismo político, tanto no plano nacional quanto local. Não podemos pensar em eleger Lula Presidente e ter no DF um governo Ibaneis/Arruda.

Para que possamos avançar num projeto de governo democrático e popular liderado pelo PT será necessário construirmos primeiramente uma forte unidade interna.

Brasília, 30 de março de 2021
Geraldo Magela
Vice-Presidente regional

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