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Projeto coletivo: quem são e por que lutam as mulheres sem-terra?

Participantes do 1º Encontro de Mulheres do MST compartilham histórias de acesso à educação e autonomia econômica

“A gente não tinha casa, não tinha terra, trabalhava na casa dos outros, era de fazenda em fazenda. Meu marido trabalhava uma diária para pagar o leite dos meus filhos. Hoje vivo do meu sustento, da minha terra. Tenho um plantio de cacau, banana, arroz, feijão, milho, porco. Participar do movimento mudou totalmente as nossas vidas”. 

A mudança na vida de Maria Edvalda Pereira, 57, começou depois que ela e o marido conheceram o assentamento do MST em Eldorado dos Carajás, no estado do Pará. A agricultora que já foi empregada doméstica, hoje participa como uma das expositoras da Mostra de Produtos da Reforma Agrária que acontece no Parque da Cidade, em Brasília, durante o 1º Encontro Nacional do Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Sem Terra (MST).

Os produtos que estão a venda em sua barraca são todos resultado da luta conquista da terra que ela e o marido participaram durante anos. Mas, para a agricultora, as transformações não foram só no campo econômico. “Com o movimento eu voltei a estudar, hoje eu terminei, fiz uma faculdade. Eu participo dos grupos de mulheres, a gente viaja, debate, conhece outras pessoas. Então hoje eu tenho outra visão, eu era só em casa. Acho que foi um privilégio”.

::Entre cores e sabores, mulheres do MST expõem produtos da reforma agrária em Brasília::

Projeto coletivo

Além dela, mais de 3,5 mil mulheres participam do evento. A maioria delas também têm histórias de superação e transformação decorrente da participação do projeto coletivo encampado pelo MST.

Uma delas é Iva Resende, 71, que vive em um assentamento em Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro. Além de aprender a plantar e produzir sem agrotóxicos, com as atividades do assentamento ela aprendeu a costurar e teve a oportunidade de fazer um curso do método terapêutico de origem oriental chamado shiatzu. Durante os dias do evento, ela é uma das voluntárias que atende no espaço de saúde, destinado a oferecer atendimento às participantes. 

Para ela, a possibilidade de romper as limitações de suas condições de gênero e classe, foi uma das maiores possibilidades apresentadas pelo movimento. “Tem muita mulher que não sabe o que é sair de casa. Eu fico pensando que se elas soubessem o quanto é bom a lição do mundo, elas nunca mais ficariam em casa. Mulher não é mais para ficar no tanque de roupa não, é para ficar no tanque de guerra, mulher é para lutar” afirma a terapeuta popular.

Mulher não é mais para ficar no tanque de roupa não, é para ficar no tanque de guerra, mulher é para lutar. 

Coletividade que transforma

A oportunidade de participar de um projeto coletivo, foi para Josiane Silva, 28, o que marcou sua história com o MST. Filha de assentada, ela vive desde pequena no assentamento 14 de Agosto, em Rondônia, onde sete famílias trabalham de forma cooperada na produção do cacau.

“Viver em coletivo mostra como a coletividade transforma o ser humano. A forma de produzir, a forma de se relacionar. No nosso projeto a gente busca a vida digna, uma vida de qualidade, não baseada não nos princípios do capitalismo, mas pensando em outra forma, seguindo os princípios do socialismo mesmo” afirma Josiane.

A jovem sem-terra, que também vendeu produtos derivados do cacau na feira, destaca os impactos que a experiência têm em sua formação, dentro de uma perspectiva de gênero. 

No nosso projeto a gente busca a vida digna, uma vida de qualidade, não baseada não nos princípios do capitalismo, mas pensando em outra forma, seguindo os princípios do socialismo mesmo. 

“Ser mulher no coletivo [do movimento] é estar presente, ser presente, estar participando das discussões, estar participando das reuniões. Não como um sujeito que está submisso à decisão do homem, mas que está à frente na construção, na coordenação, está à frente na direção. É uma forma de construir uma nova relação de igualdade”, conclui Silva.

Fonte: BDF

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