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Instrutores de autoescola fazem ato contra corte de salário e aumento da jornada

Para o presidente do sindicato patronal de centros de formação de condutores de veículos, Francisco Joaquim Loiola, não tem conversa: é retirada de direitos. A ação autoritária e inflexível não foi aceita pela categoria, que organizada pelo Sindicato dos Instrutores de Auto e Moto Escolas do DF (Sieame), realizou ato no início da manhã desta terça-feira (20), em frente à autoescola Veja, em Santa Maria.

Dono do estabelecimento, Loiola abriu os portões da autoescola por volta das 8h e, de cara fechada, evitou de todas as formas o diálogo com os trabalhadores que protestavam pacificamente. “Queremos negociar. Se o senhor tiver o mínimo de respeito pela categoria, pelo menos converse com a gente”, disse Alberto Oliveira Santos, presidente da Federação dos Trabalhadores do Comércio (Fetracom), que se somou ao ato.

Ancorado na reforma Trabalhista, o dirigente patronal Joaquim Loiola quer, através de Convenção Coletiva de Trabalho, retirar cerca de 30% do salário da categoria e vincular o valor total do direito à execução de pelo menos 180 horas-aula.

“Nossa data-base é em maio. Desde então, já realizamos oito reuniões e só é apresentado proposta absurda. E nós não estamos pedindo nada mais que a reposição da inflação, só isso. Ele (representante patronal) quer que aceitemos um salário de R$ 1.500, sendo que hoje temos salário fixo de R$ 2.214. Como se não bastasse, na proposta dele, só receberemos o salário total se cumprirmos o mínimo de 180 horas-aula. O problema é que nem sempre tem aula ou aluno. Então você ficaria à disposição, como se fosse horista, ganhando precariamente por hora trabalhada”, explica o presidente do Sieame, Alan Germano.

Segundo o sindicalista, além de tirar salário e aumentar a jornada de trabalho, a categoria ainda corre risco de perder o vale-alimentação e a liberação de dirigente sindical. “A gente tinha até chegado a um acordo, mas ele (representante patronal) voltou atrás e agora quer tirar o nosso vale-alimentação e colocar uma espécie de refeitório nas escolas. Quanto ao dirigente sindical que é liberado, tínhamos dois. Ele já ‘puxou’ um e agora quer que eu também fique sem a liberação”, conta Alan.

Alan Germano, presidente do Sieame

Há 18 anos na profissão, Josimar Rodrigues, que tem um filho de 10 anos e é o responsável por manter a casa financeiramente, diz que a proposta dos patrões é “inviável”. “Se hoje já está difícil, imagina se diminuir o salário. O que é nosso direito não pode ser retirado, tem que ser ampliado, igual fala o sindicato (Sieame). Os patrões do nosso seguimento querem que a gente trabalhe para eles como escravos, e a escravidão já acabou há muitos anos. A gente quer ter pelo menos dignidade de trabalhador”, diz. De acordo com o trabalhador, além de ameaçar retirar direitos, o seguimento patronal ainda coage os instrutores de autoescola a não participarem das manifestações em defesa dos seus direitos. “A maioria dos instrutores que não estão aqui hoje deixaram de vir porque são coagidos. Eles (os patrões) falam que vão mandar embora, mandam desfiliar do Sindicato. Mas a agente está aí para brigar”, resiste.

O presidente da CUT Brasília, Rodrigo Britto, lamentou a situação de tentativa de retirada de direitos trabalhistas básicos, como salário digno, e alertou sobre a disposição de luta da classe trabalhadora. “Quando o diálogo não é garantido, a gente parte para outras estratégias, inclusive com o movimento paredista”. O dirigente sindical ainda avaliou que a ação da representação patronal é “um flagrante desrespeito à lei”. “A Constituição Federal garante direito à organização, à filiação, à representação de classe; e eles querem é acabar com o sindicato, impedir a representação da categoria.”

Solidariedade de classe

O sol ainda nem havia nascido e representantes de sindicatos CUTistas de outras categorias já estavam a postos para se somar ao ato dos instrutores de auto escola.

“A gente acredita que a luta é da classe trabalhadora, independente da categoria, seja bombeiro civil, vigilante ou trabalhadores de serviços gerais. Todos nós somos trabalhadores e estaremos sempre juntos na luta”, disse o presidente do Sindicato dos Bombeiros Civis (Sindbomebiros), Felipe Araújo.

“Estamos aqui para ajudar os companheiros. Nossa categoria também passa por dificuldades. Estamos há 1 ano e 4 meses com a Convenção Coletiva sem ser assinada. E a gente está aqui para lutar juntos”, explicou a dirigente do Sindbeleza – sindicato que representa trabalhadores de salões de beleza – Maria Walquíria Ferreira.

“Ninguém solta a mãe de ninguém. Hoje são eles, amanhã poderemos ser nós precisando de apoio. Nós do Sindicato dos Comerciários exercemos essa solidariedade com diversas categorias. E é assim que vamos conquistando direitos para a classe trabalhadora”, avalia o dirigente do Sindicato dos Comerciários Tiago Bitencourt.

Ainda estiveram presentes no ato dos instrutores de autoescola dirigentes do Sindlurb, que representa trabalhadores da limpeza urbana; e do Sindapoio, que representa trabalhadores de locadoras de vídeo, escritório de advocacia, escritórios de assessoria, cobrança e consultoria. A solidariedade de classe é um dos pilares de sustentação da CUT, ao lado da liberdade e autonomia sindical.

Fonte: CUT Brasília, por Vanessa Galassi

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