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MARCHA DAS MARGARIDAS | A transformação de dentro para fora

A aproximadamente 140 quilômetros de Manaus, às margens do rio Juma, está localizado o Assentamento Agroextrativista (PAE) Novo Jardim, no município Autazes. Saindo da capital amazonense, são necessárias pelo menos uma hora de balsa e mais uma hora e meia de carro para chegar ao local. Mas, rompendo qualquer barreira de espaço, a Marcha das Margaridas chegou lá. E vem transformando a vida dos que ali habitam, principalmente das mulheres.

O PAE Novo Jardim é fruto da luta e organização de inúmeras famílias que, por muitos anos, exigiram do governo o direito à terra e à dignidade. Uma das pessoas inseridas nesse processo é Maria do Rosário, mais conhecida como Juma. A extrativista é uma das milhares de mulheres que tiveram suas vidas transformadas pela Marcha das Margaridas. Segundo ela, que teve o primeiro contato com o movimento na Marcha de 2011, a Marcha das Margaridas a tornou “uma mulher mais forte”.

“A Marcha mudou minha visão sobre a vida, dentro e fora da minha comunidade. A Marcha abriu meus olhos e me fez compreender que as políticas públicas não chegam até nós porque os governantes são bonzinhos. Chegam porque lutamos por elas. Chegam porque alguém foi lá e reivindicou”, conta Juma.

Conquistas

As transformações na vida de Juma são semelhantes as que ocorrem na vida de outras mulheres Brasil afora, como explica a secretária de Mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Maria José Morais. “A Marcha das Margarias é responsável pela geração de grandes mulheres. É algo que mexe com a gente e que nos liberta de muitas correntes.”

Mazé, como é conhecida a secretária de Mulheres da Contag, explica que no período de organização da Marcha, são realizados inúmeros encontros com as mulheres. Reuniões que servem tanto para a preparação da ação como para a formação das trabalhadoras. “Nosso intuito é que cada uma que vier a Brasília marchar, venha sabendo o porque de estar aqui. Mais que números, queremos empoderar nossas mulheres. Queremos que elas saiam com um olhar diferente e que compreendam a necessidade de ocuparmos todos os espaços”, explica.

Mas as conquistas das Margaridas também são concretas. Ao longo de décadas de mobilização, a Marcha rendeu direitos essenciais para as mulheres do campo, da floresta e das águas. Um dos destaques é a Campanha de documentação da trabalhadora rural. Implementada durante do governo Lula, o programa contou com unidades móveis em todos os estados e atendeu mais de um milhão de mulheres. Isso possibilitou que as trabalhadoras pudessem emitir a Titulação Conjunta Obrigatória de terra. Hoje, 70 % dos títulos de terra emitidos têm a mulher como primeira titular.

Outro êxito fundamental para o fortalecimento da mulher foi na área da agricultura familiar, com a criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf Mulher). O programa garante que 30 % dos recursos destinado para a área seja para o uso exclusivo da mulher.

No âmbito da saúde, destaca-se a implementação do Projeto de Formação de Multiplicadoras/es em Gênero, Saúde e Direitos Sexuais e produtivos, que tem como objetivo articular, mobilizar e organizar a população do campo em torno dos direitos à saúde, em defesa dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e do fortalecimento do Controle Social.

Já na área da educação, as mulheres conseguiram a criação de uma coordenadoria no Ministério da Educação (MEC) voltada exclusivamente para a educação no campo. Além disso, foi criado também um grupo interinstitucional com a finalidade de elaborar e definir diretrizes da política nacional de educação infantil.

A mobilização fortaleceu ainda o enfrentamento à violência contra as mulheres do campo e da floresta. Além da criação de um Fórum Nacional para tratar do tema, o grupo conseguiu a entrega de 54 unidades móveis em áreas rurais para o atendimento às mulheres em situação de vulnerabilidade, incluindo unidades pluviais para a região amazônica.

Desafios

Para esse ano, a Marcha das Margaridas tem uma missão ainda maior, uma vez que o Brasil está sob a administração de um governo totalmente retrógrado e misógino. Para se ter uma ideia, não houve sequer indicativo de qualquer tipo de negociação das reivindicações pleiteadas pelo movimento.

“A marcha desse ano ocorre em um contexto bastante desafiador. Nos anos anteriores, além da marcha em si, era entregue ao governo uma pauta política com nossas reivindicações. Havia negociação. Porém, é importante que esse governo tenha em mente que estamos preparadas para a luta e não aceitaremos retrocessos”, disse.

A Marcha

Sob o lema “Margaridas na luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência”, a Marcha 2019 reforça o anseio do povo brasileiro por um país mais justo para todos.

A Marcha das Margaridas é uma ampla ação das mulheres do campo, da cidade, da floresta e das águas por visibilidade, reconhecimento social, político e cidadania plena. O movimento foi construído a partir de um longo processo formativo, por meio de debates e ações políticas, desenvolvidos pelas mulheres em seus espaços, até chegar à capital do país.

A ação é coordenada pela Confederação Nacional de Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), e construída em parceria com movimentos feministas e de mulheres trabalhadoras, centrais sindicais e outras organizações.

Fonte: CUT Brasília

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