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Bancárias do Comitê Popular de Luta em Defesa da Caixa fazem protesto contra assédio sexual do presidente da instituição, Pedro Guimarães. Horas depois, ele deixa o cargo

Bancárias do Comitê Popular de Luta em Defesa da Caixa realizaram, nesta quarta-feira (29), um protesto contra o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, após ele ter sido acusado de assédio sexual por funcionárias da empresa. O ato foi realizado em frente à sede do banco em Brasília, chamada de Matriz 1.

A manifestação foi convocada pelo Sindicato dos Bancários de Brasília, que classificou as denúncias como um “comportamento repugnante” e pediu pelo imediato afastamento de Guimarães do cargo, bem como ” rigorosa e imediata apuração das denúncias, inclusive nos campos criminal, civil e administrativo”. Logo após o ato, Pedro Guimarães deixou o cargo.

Uma faixa com os dizeres “assédio sexual é crime” foi estendida pelas manifestantes. Pedro Guimarães foi acusado por funcionárias da Caixa Econômica Federal de comportamentos inadequados e intimidações constantes no ambiente de trabalho. As primeiras denúncias foram publicadas ontem pelo jornal Metrópoles, que resguardou a identidade das mulheres. O Ministério Público Federal já investiga o caso, que corre em sigilo, afirmou a publicação. Nesta manhã, Pedro Guimarães participou de um evento da Caixa, em Brasília, para divulgar o Plano Safra 2023. Em discurso, ele disse que tem “uma vida pautada pela ética”. “Quero agradecer a presença de todos vocês, da minha esposa.”

O presidente do PT DF, Jacy Afonso compareceu à manifestação e lembrou que o tipo de atitude do presidente da Caixa, só reflete o nível da política do governo Bolsonaro. “Essa política que está sendo feita aqui na Caixa Econômica é apenas a ponta do iceberg da política de Bolsonaro, o que eles fazem com as mulheres da Caixa é o mesmo que fizeram com o Dom [Phillips] e o Bruno [Pereira], lá em Atalaia do Norte. É a política de destruição na nação brasileira, é isso que estão fazendo com as privatizações da Petrobras e da Eletrobras, dos Correios, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica. Nós precisamos dar um basta nisso. Aproveito para cumprimentar os companheiros do Comitê de Luta em Defesa da Caixa, é assim que funciona um Comitê Popular, porque não basta que esse presidente saia, é preciso que a Caixa seja responsabilizada e mudada sua política com relação ao conjunto de seus funcionários”, disse.

Assista ao vídeo da intervenção de Jacy Afonso:



Entenda o assunto:

A notícia foi publicada no final da terça-feira (28) pelo portal de notícias Metrópoles, que divulgou as gravações com as acusações. Várias mulheres, de acordo com a reportagem, foram ao Ministério Público Federal e fizeram os mesmos relatos, que seguem em sigilo.

O MPF estaria instalando um procedimento de investigação a respeito dos episódios. “São fatos estarrecedores sendo divulgados”, aponta o presidente da Presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae). “Pedimos que haja uma apuração rigorosa e o afastamento imediato de Pedro Guimarães por que não é possível ter uma apuração dos fatos com ele no comando”, destaca, em entrevista ao Jornal Brasil Atual.

Pedro Guimarães, Jair Bolsonaro e Flávio Bolsonaro: presidente da Caixa é próximo à família presidencial – (Brasília – DF, 10/05/2019) Presidente da República, Jair Bolsonaro durante Abertura da reunião de gestores “Nação CAIXA”. Foto: Isac Nóbrega/PR

Takemoto ressalta a necessidade de proteção das funcionárias que denunciaram Pedro Guimarães. “Estamos muito preocupados com a segurança das pessoas que estão envolvidas e é realmente lamentável que ocorra isso nos dias de hoje”, pontua, dizendo ainda que a questão do assédio sexual já havia aparecido em consultas junto a trabalhadores do banco.

“Na Fenae, fizemos recentemente uma pesquisa sobre saúde e um dos fatos que chamou atenção em nossa pesquisa, além do assédio moral, o assédio sexual também apareceu e ficamos muito preocupados com o ambiente que está sendo vivenciado na Caixa hoje. Sem dúvida há necessidade de proteção das pessoas e a Fenae, junto com outras associações, está se colocando à disposição das pessoas para que tenham acompanhamento e sejam acolhidas.”

O presidente da Fenae reforça que é preciso aprimorar o canal de denúncias e as políticas voltadas para coibir e punir casos de assédio sexual. “Nós já temos no nosso acordo coletivo com a Caixa o estabelecimento de um canal de denúncias, mas sabemos que é muito difícil qualquer pessoa denunciar uma chefia ou seu superior. Principalmente se tratando do cargo mais alto de uma empresa”, afirma.

Luta contra o assédio na Caixa e nos demais bancos

O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região afirmou, em nota, que as denúncia desta terça-feira (28) precisam ser investigadas a fundo.

“É imprescindível a instauração de investigação e, se confirmadas as denúncias, que condutas abomináveis como essas não fiquem impunes. A luta contra o assédio sexual e moral faz parte de uma política permanente do Sindicato, com reivindicações que intensificam a luta, dentro dos bancos, contra o machismo e racismo institucional e assédio sexual e moral, com normas e condutas rígidas”, diz a entidade.

O Comitê Popular de Luta e Defesa da Caixa também manifestou repugnância em relação aos fatos noticiados. “O Comitê se solidariza com as empregadas vítimas dessa prática inaceitável e doentia e as parabeniza pela coragem de denunciar os fatos, que seguem em investigação pelo Ministério Público”, diz comunicado divulgado há pouco pelo coletivo.

“É imperativo que os órgãos de controle interno e externos da Caixa, bem como a Justiça, não se omitam e apurem os fatos com rigor, isenção e prestem proteção às empregadas envolvidas. Se confirmado, o triste episódio se soma a vários outros já conhecidos, públicos e notórios. São marcas de um governo e de uma gestão da Caixa autoritários e misóginos. E que tratam a coisa pública, inclusive o servidor público, como propriedade sua”, afirma o comitê. “Nunca, em 161 anos de existência, os empregados e a Caixa foram tão atacados e humilhados.”

Bolsonarista convicto

Defensor das privatizações desde sua nomeação como presidente da Caixa, Pedro Guimarães é um auxiliar muito próximo do presidente da República, Jair Bolsonaro. Tanto que o acompanha em grandes eventos pelo país afora. Além disso, costuma falar como autoridade governamental em suas incursões em eventos públicos. A indicação para o posto partiu do ministro da Economia, Paulo Guedes, em razão da identificação com sua cartilha ultraliberal.

Em uma confraternização de final de ano, chegou a constranger gerentes e lideranças da instituição a fazerem flexões comandados por um general. E ainda a darem cambalhotas acompanhados por uma ginasta profissional. Acionado por entidades sindicais, Guimarães foi notificado pelo Ministério Público do Trabalho por submeter os empregados a situações de constrangimento.

Em 2018, uma revista semanal divulgara que o “forte do novo presidente da Caixa, Pedro Guimarães, não é o autocontrole”. Segundo a revista, o executivo chegou a machucar uma colega de Santander durante uma festa de fim de ano. “Acabou demitido.”

PTDF com Brasil de Fato e Uol

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