A saúde pública do Distrito Federal vive um colapso prolongado, uma crise que se arrasta há anos e a greve dos médicos, iniciada em 3 de setembro e já em sua terceira semana, é uma resposta de que esse colapso passou dos limites. Com hospitais sucateados, equipamentos essenciais quebrados e falta de insumos básicos como medicamentos e materiais de proteção, os profissionais de saúde estão sobrecarregados, sem reforço de pessoal e enfrentando um cenário de trabalho insustentável. A gestão de Ibaneis Rocha e de Celina Leão tem falhado em solucionar essa crise, enquanto a população sofre as consequências desse desgoverno.
A Greve: Necessidade de Condições Dignas e Valorização Profissional
A greve dos médicos é uma reação inevitável às péssimas condições de trabalho impostas pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) e à ausência de valorização da carreira médica. Segundo o Sindicato dos Médicos do DF (SindMédico), as principais reivindicações da categoria incluem a recomposição do quadro de médicos, melhoria nas condições de trabalho e a atualização salarial, que se encontra defasada em comparação ao mercado privado e até mesmo em relação aos profissionais contratados pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IGESDF).
A alegação do governo de que o reajuste salarial dos médicos comprometeria as contas públicas é facilmente refutada. O deputado Gabriel Magno (PT-DF), presidente da Comissão de Educação, Saúde e Cultura, argumenta: “O DF bateu agora, pelo relatório do governo, o menor índice da história, 34,8%. Ou seja, há muita margem fiscal para poder investir não só na saúde, mas em serviços públicos de maneira geral que estão precisando”. Dessa forma, fica claro que o problema não é falta de recursos, mas de prioridade.
Magno também criticou a terceirização promovida pelo governo, que opta por terceirizar serviços em vez de estruturar adequadamente o sistema público de saúde: “O governo tem feito mecanismos de contratação emergencial de médicos via IGES, via terceirização e via PJ, pagando um salário maior. Para reestruturar a carreira e garantir a permanência dos serviços, o governo alega que não há dinheiro. Então, é um absurdo”.
O Modelo IGES e a Terceirização: Um Sistema Corrupto e Ineficiente
O modelo de gestão terceirizada implementado pelo IGES é um dos principais responsáveis pelo caos na saúde pública do DF. Criado com a promessa de eficiência, o instituto se tornou um foco de denúncias de corrupção e má gestão. Ibaneis Rocha, que durante sua campanha em 2018 prometeu acabar com o IGES, ampliou sua atuação após assumir o governo, deixando claro que o instituto, longe de solucionar os problemas, aprofundou a crise.
Equipamentos ultrapassados, a ausência de materiais básicos e a precarização das condições de trabalho mostram que o modelo de terceirização falhou. Em vez de priorizar concursos públicos e a contratação de servidores efetivos, o governo preferiu investir em contratações emergenciais e temporárias, pagando salários maiores via IGES, mas sem garantir os direitos trabalhistas devidos aos médicos.
Natália Matias dos Santos Dieguez Barreiro, médica de família e comunidade da SES-DF e uma das vozes do movimento, denuncia essa discrepância: “O vencimento básico de um médico do IGES chega a ser 28% maior do que o de um médico da secretaria. A fonte pagadora é a mesma, então há recursos, mas falta prioridade em valorizar os servidores concursados”.
A Falta de Diálogo e a Incompetência do GDF
Um dos pontos mais alarmantes dessa greve é a completa falta de diálogo por parte do governo. Ibaneis Rocha declarou publicamente que as demandas dos médicos são “absurdas”, alegando que o custo para atendê-las ultrapassaria R$ 600 milhões, valor considerado “inviável” para o orçamento. Entretanto, não ofereceu nenhuma proposta alternativa. O secretário de economia, Ney Ferraz, também não mostrou disposição em abrir uma negociação justa com os médicos.
A falta de resposta do governo é uma demonstração clara de despreparo e negligência. Enquanto isso, os médicos continuam cumprindo seu juramento de salvar vidas, mantendo em funcionamento os serviços de emergência, UTIs e o SAMU. A greve é, de fato, uma necessidade diante das condições insustentáveis, como destacou o SindMédico: “O que buscamos é diálogo e valorização, não somente para a categoria, mas para a melhoria do sistema de saúde como um todo”.
Um Sistema em Colapso: O Grito da População e dos Profissionais
O colapso da saúde no DF é uma tragédia que não começou agora. A crise vem se arrastando há anos, com marcos trágicos como a pandemia de COVID-19 e a crise da dengue, ambas mal geridas pelo governo, resultando em perdas de vidas que poderiam ter sido evitadas. O déficit de servidores, que hoje já atinge cerca de 25 mil cargos vagos na SES-DF, é fruto de uma política que privilegia a terceirização e o sucateamento do serviço público.
Osvaldo Bonetti, secretário de saúde do PT-DF, reforça que “o déficit de servidores e a sobrecarga dos profissionais são reflexos diretos de uma política que optou por precarizar a saúde pública. O PT DF tem se mobilizado constantemente, denunciando a falta de responsabilidade do governo Ibaneis e lutando por uma saúde pública que sirva ao povo”.
O Caminho para a Solução
É urgente que o governo reconheça a gravidade da situação e abra canais de negociação com os médicos. A solução para essa crise passa, necessariamente, pela nomeação de mais profissionais, a realização de concursos públicos e a valorização dos médicos e demais servidores da saúde. Isso não apenas garantiria melhores condições de trabalho para os profissionais, como também melhoraria a qualidade do atendimento à população, que sofre com a precariedade atual.
O Partido dos Trabalhadores do DF tem se posicionado fortemente contra a política de terceirização e em defesa do SUS, reiterando que a saúde pública deve ser uma prioridade. O partido, ao lado dos movimentos sociais e sindicatos, continuará pressionando o governo por uma solução definitiva, que inclua a valorização dos profissionais da saúde e o fortalecimento do sistema público.
O fato é que a greve dos médicos não é apenas uma luta por melhores salários, mas um grito de socorro pela saúde pública do Distrito Federal. O governo precisa agir antes que o colapso se torne irreversível.