11 de setembro – Dia do Cerrado | Em tempos de crise climática e seca extrema, este bioma enfrenta sua pior ameaça: incêndios devastadores que consomem sua vegetação e sua fauna, agravando uma situação que não é meramente natural, mas também produto de ações criminosas e descaso. Tudo fica ainda mais trágico tendo em vista que o nosso belo cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul e um dos mais importantes do Brasil. Conhecido como o “berço das águas”, o Cerrado é responsável por alimentar as principais bacias hidrográficas do país, sustentando rios fundamentais para a biodiversidade e a vida humana. A dimensão da importância do Cerrado é global.
As Queimadas: Entre a Seca e o Crime Ambiental
O Brasil atravessa a pior seca dos últimos 70 anos, e o Cerrado está no centro dessa tragédia. Apenas ontem, dia 10, o país registrou mais de 5 mil focos de incêndio, dos quais quase metade ocorreram no Cerrado. Embora a estiagem crônica contribua para a propagação do fogo, devemos destacar que muitos desses incêndios são criminosos, incentivados por ganaciosos interesses econômicos que veem na destruição uma oportunidade de lucro. Segundo dados do INPE, o número de focos aumentou 105% em relação ao ano passado, e isso não pode ser explicado apenas pela falta de chuvas.
Os incêndios criminosos, alimentados por práticas que beneficiam grandes produtores e latifundiários, têm tomado proporções trágicas. A lógica de “queimar para lucrar” transformou os biomas brasileiros em verdadeiros campos de cinzas. Isso é inaceitável. Precisamos de uma investigação rigorosa, que identifique e puna os responsáveis por essas queimadas, que estão destruindo o Cerrado e colocando em risco nosso futuro ambiental.
O Agronegócio e sua Contribuição para a Destruição
Desde a ditadura militar, a expansão desenfreada da fronteira agropecuária fez das queimadas um método corriqueiro de “limpeza” de terras para pastagem e cultivo. Hoje, o agronegócio segue extremamente poderoso, mantendo o ciclo de destruição. Mesmo sob o governo Lula, o Brasil continua priorizando subsídios a grandes fazendeiros, enquanto a agricultura familiar, que é social e ambientalmente mais responsável, recebe menos apoio.
A violência ambiental promovida pelo agronegócio se intensificou ao longo dos anos, com episódios como o “Dia do Fogo” em 2019, quando grandes áreas da Amazônia foram queimadas deliberadamente, deixando cidades como São Paulo sob uma nuvem de fumaça. Este ano, a mesma prática é repetida, com manchas de fogo de mais de 500 km de extensão no país.
Agricultura Familiar: Uma Alternativa Sustentável
Por outro lado, enquanto o agronegócio continua devastando, os pequenos agricultores organizados e a agricultura familiar se destacam como uma solução para a preservação do Cerrado. Diferentemente das grandes monoculturas, a agricultura familiar promove práticas sustentáveis, que conservam a biodiversidade e os recursos naturais. Esses agricultores mantêm áreas de vegetação nativa em suas propriedades, preservando matas ciliares e fragmentos de florestas que servem de abrigo para a fauna e contribuem para a manutenção do clima.
Além disso, a preservação de sementes crioulas (odas as formas possíveis de multiplicação de vegetais, seja por grãos, ramas, raízes, folhas, flores, frutos ou caules, e incluem também a reprodução de vida, como animais e polinizadores, essenciais para garantir uma alimentação saudável e diversificada) e a manutenção de variedades agrícolas adaptadas às condições locais garantem a diversidade genética e a saúde dos solos. A agricultura familiar é, portanto, essencial para a preservação do Cerrado, um bioma que ainda sofre com o desmatamento agressivo e o avanço do agronegócio.
Nosso Futuro
A situação do Cerrado é crítica, mas não irreversível. A preservação desse bioma é uma responsabilidade coletiva que precisa ser encarada com urgência e seriedade. Para proteger o “berço das águas” do Brasil, é fundamental que as políticas públicas deixem de favorecer a destruição e passem a investir na agricultura familiar, na recuperação das áreas degradadas e na responsabilização dos que lucram com a devastação.
Este é um desafio realista, que exige um esforço de todos: governos, sociedade civil e cidadãos. Ainda há tempo de mudar o curso dessa história, mas não podemos esperar passivamente. O Cerrado não é só uma paisagem; é uma fonte vital de vida e equilíbrio para o Brasil e, por consequência, para o mundo. Preservá-lo é uma questão de sobrevivência. Precisamos de ações concretas. Somente assim poderemos reverter tamanha destruição a fim de preservar o mundo para as próximas gerações.