Rodrigo Rodrigues – Professor de História da Secretaria de Educação do DF e atualmente presidente da Central Única dos Trabalhadores do Distrito Federal – CUT/DF.
É necessário fazer uma avaliação dos sinais que as eleições de 2022 indicaram para todos nós que moramos aqui no Distrito Federal. Em especial agora, passada a eleição que deu, pela terceira vez, importante vitória ao companheiro Lula para Presidente da República, este que sempre foi o símbolo da capacidade de organização e luta da classe trabalhadora no Brasil e que, nesse pleito, assumiu o polo aglutinador dos setores democráticos brasileiros contra Bolsonaro e os gatilhos que o bolsonarismo nos deixará como legado: autoritarismo, desmandos crescentes do atual governo em todas as áreas sociais e o ataque recorrente aos direitos humanos mais básicos.
O resultado das eleições do 1º turno aqui no Distrito Federal indicou o que as pesquisas de opinião pública e de levantamento eleitoral já apontavam: a reeleição apertada do Governador Ibaneis Rocha por 50,3% dos votos válidos. Ainda como atual governador, Ibaneis terá inúmeros desafios pela frente, em especial aqueles voltados para as áreas sociais das moradoras e dos moradores da cidade. Sua vitória, para além das razões que podem vir a explicar o seu êxito, não dá a ele, definitivamente, nenhuma carta branca: ele será cobrado muito fortemente pelo desastre que foi o seu governo, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social.
Mas a reeleição de Ibaneis ao Governo do DF, e mesmo a vitória do atual Presidente da República na capital do país, não devem ofuscar os sentimentos de renovação política e de mudança que as urnas também trouxeram. A fim de não subestimar os novos ventos que animam Brasília, suas regiões administrativas e cidades do entorno da capital, deixar de perceber o que representaram as eleições do 1º turno aqui no Distrito Federal custará caro aos que hoje, eleitos e reeleitos, podem estar inebriados com a vitória. Por isso, destacamos aqui o outro lado da moeda.
O primeiro aspecto a ser ressaltado é a vitória moral e política do jovem deputado distrital Leandro Grass. Candidato da Federação PT-PV-PCdoB ao Governo do Distrito Federal, Leandro Grass se colocou a altura da esperança depositada por todos os que nele apostaram como candidato de Lula em Brasília. Seus mais de 435 mil votos, quase 26% do eleitorado do DF, o gabaritaram a se firmar como uma nova liderança da nossa cidade. Candidato com a segunda maior votação, seu nome desbancou figurões da política local, como Paulo Octávio (ex-governador), o senador Izalci Lucas e a senadora Leila do Vôlei. Deputado de 1º mandato na Câmara Legislativa, a projeção que essa disputa lhe deu pode vir a consolidar o seu nome como uma importante voz na oposição a Ibaneis, mesmo que fora de seu atual mandato de deputado distrital. Quando voltamos nossa atenção à Câmara Legislativa, percebemos que a renovação de 50% de novos deputados, apesar de ser uma das mais baixas da história da CLDF, trouxe um cenário com ares de mudança e renovação: os três deputados mais votados em 3 de outubro para a Câmara Legislativa foram deputados de esquerda e de oposição ao atual governador. O campeão de votos foi o Deputado Fábio Félix, também jovem liderança da cidade com seus mais de 51 mil votos. O segundo mais votado foi o companheiro Chico Vigilante, com quase 44 mil votos. Deputado experiente e sempre muito necessário nas disputas travadas na CLDF, Chico Vigilante é retribuído pelo seu incessante trabalho em defesa da classe trabalhadora na cidade. O terceiro mais votado, que se juntará à bancada de oposição a Ibaneis na CLDF, é o ativista social e popular, nascido e criado na Ceilândia, pedagogo de formação, Max Maciel, que chega a seu primeiro mandato na Câmara Distrital com quase 36 mil votos. A somar com esses três nomes mais votados da cidade para a CLDF, o PT também elegeu Gabriel Magno e Ricardo Vale. O primeiro, professor como eu, é uma
jovem liderança do movimento sindical de professores e professoras do DF, tendo sido dirigente do SINPRO e da CNTE. Somar-se-á à bancada de oposição a Ibaneis. Já Vale, retorna ao mandato que já ocupou na CLDF, deixando a bancada do PT, ao lado do MDB, como a segunda maior daquela Casa nessa próxima legislatura, com 3 deputados, perdendo apenas para o PL que elegeu 4. O PSOL, que elegeu 2 deputados, contará com a terceira maior bancada, ao lado do PP, Agir e PSD.
Para a Câmara Federal, o destaque vai para a eleição da companheira Erika Kokay, a terceira candidata mais votada da cidade, que contou com mais de 146 mil votos. A novidade aqui, nessa eleição para os representantes do DF no parlamento federal, vai para a companheira Ruth Venceremos que, mesmo não eleita, fez história. Em sua primeira eleição, a candidata Drag Queen do MST fez uma campanha que mobilizou a cidade inteira. Eleita para a 1ª suplência, os mais de 31 mil votos que Ruth alcançou não foram suficientes, dessa vez, para levá-la de forma direta à Câmara Federal. Apesar de ter tido muito mais votos que Alberto Fraga e Gilvan Máximo, os dois últimos eleitos para compor a bancada federal do DF na Câmara, Ruth ficou de fora pelas atuais regras do nosso sistema proporcional de eleições. Uma grande pena para a cidade e para o Brasil, das mais sentidas. Nessas eleições, junto com Érika, a Federação Brasil da Esperança também elegeu como deputado federal o atual membro da Câmara Legislativa do DF Reginaldo Veras, do PV.
Mas talvez o aspecto mais revelador e sintomático do que chamo aqui de o outro lado da moeda, que indica ares de renovação e mudança no Distrito Federal a partir dos resultados do nosso 1º turno das eleições de 2022, é a eleição majoritária para o Senado da República. A Federação Brasil da Esperança indicou o nome da companheira Rosilene Côrrea, ex-dirigente do SINPRO e atualmente secretária de finanças da CNTE. Professora e educadora da cidade, Rosilene participou de sua primeira eleição geral agora. E encantou a cidade com suas intervenções nos debates públicos e pautas nacionais a que sempre foi convocada a se pronunciar. A candidata do Lula no DF para o Senado Federal, Rosilene obteve mais de 356 mil votos e, disputando com nomes de grosso calibre do bolsonarismo na cidade, quase desbancou a mãe do orçamento secreto de Bolsonaro na segunda colocação. Só não o fez porque foi vítima de um estratagema fomentado pelas próprias campanhas adversárias nas redes sociais, que incentivou uma voraz campanha de voto útil no que diziam ser a menos pior para o DF. Nossa campanha sempre se firmou na convicção de que as duas candidatas ao Senado de Bolsonaro no DF foram e são farinha do mesmo saco. Mas a campanha nas redes sociais por um inútil voto útil, desde o início da campanha oficial, tática usada e conhecida por esses que manjam de algoritmos das redes sociais, ganhou força até entre setores progressistas e de esquerda da cidade. Apressados analistas de pesquisas eleitorais saíram a declarar seu voto na ministra de Bolsonaro. Alguns voltando atrás, outros mantendo um envergonhado silêncio. No final das contas, a vitória acachapante de Damares prova que aquele cenário de disputa parelha entre as duas (Flávia e Damares) nunca, de fato, existiu, como reverberado nas campanhas de um suposto voto útil na direita bolsonarista.
A candidatura de Rosilene Côrrea para o Senado nessas eleições de 2022 indica uma nova agente política para a cidade. Como liderança sindical importante e forjada no seio da cidade, Rosilene Côrrea, com seus 22,42% dos votos dos moradores e moradoras do DF, se apresenta, a partir de então, como uma importante interlocutora de expressivos segmentos sociais de Brasília. Dentro do PT, a candidatura de Rosilene obteve mais votos do que muitos dos nossos ex-candidatos a esse cargo público, nomes já gabaritados da política local, companheiros e companheiras que nos representaram nas empreitadas passadas das eleições majoritárias para o Senado. Rosilene Côrrea, com seus 356.198 votos obtidos nessas eleições de 2022, teve mais votos em número absoluto que Wasny (218.058 votos) e Marcelo Neves (73.753 votos) em 2018; que Magela em 2014 (269.791 votos); que Arlete Sampaio em 1998 (347.663) e Lauro Campos em 1994 (352.664 votos). Das candidaturas do PT, na história das eleições do DF, a de Rosilene só perdeu para a do ex-governador Cristovam, em 2002, quando este atingiu mais de 680 mil votos junto com a onda vermelha que elegeu Lula Presidente. Sem sombra de dúvidas, a candidatura de Rosilene é daquelas empreitadas que, mesmo não obtendo êxito eleitoral no atual pleito, indica uma vitória moral e política, em especial para o futuro. E é por esse futuro que, empenhados em construir nos próximos anos aqui no DF, estamos forjando novas lideranças políticas da cidade. Que sejam todos bem vindos e bem vindas à luta em defesa de nossa classe trabalhadora! Serão cobrados, nessa pauta em defesa dos interesses dos trabalhadores e das trabalhadoras, pelo movimento sindical da cidade!
Esse conjunto de novas lideranças que o Distrito Federal tem forjado ao longo de nossa história será de fundamental importância para o novo Governo Lula, a partir de janeiro de 2023. Serão estes os nomes que representarão os interesses do DF na construção das políticas públicas e sociais que o novo governo federal implementará por todo o país e também em nossas cidades aqui no Distrito Federal e entorno. Além de nos representar, eles serão também nossos interlocutores, junto ao Palácio do Planalto, nessa construção de um novo Brasil e DF que tanto almejamos.